Da palha ao biochar: indústria contribui para café mais sustentável

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O cafeicultor Roger Alves da Fonseca, ao lado dos irmãos Glauco e Tadeu, está bem otimista com a próxima colheita de café, que terá início já em maio deste ano. Com propriedade desde 1940 a 10 km de Lajinha, região das Matas de Minas, no Leste do Estado, esta será a primeira vez que eles vão destinar a palha do café que é cultivado in loco para a produção de biochar na indústria.

Conforme já anunciado com exclusividade pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO que Minas terá a maior produção de biochar da América Latina, toda a casca de café produzida pela lavoura da Fazenda Amado Fonseca será recolhida por caminhões da NetZero. A empresa, de fundação francesa, chegou ao Brasil há pouco tempo para apostar na tecnologia pioneira de utilizar a palha do café – fonte renovável e rica em carbono – para transformar em bioinsumo.

O biochar é um produto sólido que se assemelha ao pó de carvão. É obtido por meio da extração do carbono contido nos resíduos vegetais, utilizando o processo de pirólise. “O biochr é um carvão de estrutura esponjosa, extraído da biomassa renovável, que retém líquido e reduz o uso de fertilizantes em até 33%. O interessante é que ele mantém o solo hidratado até mesmo em época de crise hídrica”, explica o co-fundador da NetZero Brasil, Pedro Figueiredo.
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Roger da Fonseca apresenta a sua plantação de café: são 70 hectares em Lajinha, no Leste do Estado | Crédito: Gil Silva / NetZero/ Divulgação

Na Fazenda Amado Fonseca, a colheita de café começa em maio e se estende até agosto devido à altitude do terreno. “Quanto menos altitude tiver, mais cedo começa a colheita”, diz o proprietário. “Aqui, por exemplo, são 750 metros de altitude e colhemos uma média de 40 sacas de café por hectare neste período”, conta.

Roger da Fonseca explica ainda que cada quilo de café colhido pode gerar 1 kgde palha. No entanto, a secagem pode depender de 20 a 50 horas por conta da umidade da casca. “O ideal é que ela seque até chegar aos 11% ou 12% de umidade. Desta forma, conseguimos gerar 1,2 quilo de café pilado por hora”, informa.

Como a plantação da Fazenda Amado Fonseca é praticamente toda da espécie arábica, há pés que podem apresentar até quatro qualidades diferentes de grãos. “Temos o café cereja, que, ao ser descascado, apresenta a melhor qualidade. Temos também o café verde em que a umidade dele é alta, além do café boia, porque no processo de lavagem, ele acaba boiando na água. Neste mesmo processo de lavagem, o grão mais seco vai boiar, enquanto os grãos úmidos vão passar por uma secagem, sendo um outro processo de separação”. Ao finalizado, as cascas são expelidas numa área reservada para recolhimento do caminhão da NetZero.
Produtor mostra grãos retirados de um mesmo pé de café, tendo três tipos de qualidades: grão seco, grão cereja e grão verde | Crédito: Dione AS.

“Psso dizer que estamos muito ansiosos com a chegada da NetZero e esperamos que ela venha conosco agregar valor. Uma coisa em comum é que falamos muito em sustentabilidade e esperamos que ela (empresa) possa trazer essa sustentabilidade de forma econômica, social e ambiental para nós produtores”, conta Roger da Fonseca.

Além de Roger da Fonseca, outros 379 produtores de café de Lajinha e região estão confiantes em contar com a viabilidade econômica e sustentável que o novo produto é capaz de oferecer. Responsável em acelerar a instalação da startup no País, a Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé) cedeu um terreno de 15 mil m² para a edificação da planta, que levou seis meses para ser finalizada. A operação, até o momento, já recebeu investimentos da ordem de R$ 20 milhões.

“A expectativa que estamos em torno dessa parceria com a NetZero é o experimento da produção do biochar por meio do sequestro de carbono. Afinal, é uma pegada que hoje é necessária nesse mundo,e com essas mudanças climáticas é preciso mais sustentabilidade”, reforça o diretor de Produção e Comercialização da Coocafé, Pedro Araújo.
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Pedro Figueiredo explica que a parceria com os produtores de café de Lajinha e região vai funcionar não no formato de compra e venda de insumos, mas como um retorno dentro de um negócio circular.

“Nós que compactuamos dos mesmos valores da Coocafé e dos produtores queremos gerar a sustentabilidade agrícola. Nessa parceria, a gente investe, coopera com um custo altíssimo e temos então os faturamentos. Para que haja um equilíbrio desse investimento com a operação, a gente devolve (parte do) biochar aos produtores. Esse formato parte de uma contrapartida que é o balanço sustentável e econômico”, diz.

Na prática, o produtor que forneceu a palha terá a porcentagem de 50% de biochar como crédito. Desta forma, cada um receberia 50% de crédito de carbono a longo prazo. “Os primeiros 160 produtres cadastrados para a parceria devem representar 70% do volume de palha que viabilizam o negócio. Depois vêm os produtores menores a contribuir com a destinação das palhas”, acrescenta Pedro Araújo, da Coocafé.

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